Não era cedo, mas até naquela idade a criança sabia que não iria acordar cedo. Não acordaria cedo por mais de dois meses. E o verão, ensolarado e quente, encheria o quarto de luz enquanto a janela se abria. A menina calçou as pantufas que mais gostava, saiu do quarto e explorou a casa tão familiar como se fosse a primeira vez. Chegou à cozinha, o lugar preferido da mãe e não porque gostasse de cozinhar, mas por que se sentia em casa. Ela estava encostada na bancada com uma xícara em mãos conversando alegremente com a empregada que a menina tanto amava.
Quando as duas a viram, parada à porta, sorriram juntas. A criança deveria devia estar com os olhos cansados e o cabelo revirado, mas seus olhos brilhavam de excitação pela manhã de verão. Ela sentia a alegria e sabia os planos para o dia. Ela e a mãe fariam uma torta de bolachas e, enquanto ela era deixada para gelar, a menina tomaria um banho na piscina de plástico. A companhia da mãe era boa, a criança não podia fazer muita coisa, mas o pouco que fazia a deixava orgulhosa. Ela adorava doces e a mãe sabia e era por isso que se divertiam tanto mexendo nas misturas, cortando a matéria-prima do doce, quebrando bolachas. O cheiro e as mordidas escondidas faziam a menina rir.
Quando eu penso naquele verão, não me lembro só daquela menina, mas da felicidade de fazer uma simples comida. Lembro-me do sabor e até hoje eu sinto a mesma coisa, a mesma felicidade e ingenuidade de uma criança. Todo o amor que aquilo acarretava, toda a união, a sabedoria compartilhada e o gosto, todo o gosto.
1 - Memórias do paladar.
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